Política
Apoio político à família Bolsonaro se fragiliza com insistência em anistia ampla
Parlamentares da direita se distanciam após pressão do agronegócio e desgaste com tarifaço de Trump; bastidores apontam disputa entre Eduardo e Tarcísio por herança eleitoral de Bolsonaro
17/07/2025
07:15
DA REDAÇÃO
©DIVULGAÇÃO
A defesa insistente de uma anistia ampla, geral e irrestrita feita por Eduardo Bolsonaro (PL-SP) e outros integrantes da família Bolsonaro tem provocado racha interno na direita e fragilizado o apoio político ao clã, inclusive entre aliados que até então se mantinham fiéis.
O pano de fundo do desgaste é o impacto do tarifaço de 50% imposto pelo presidente Donald Trump a produtos brasileiros. A medida foi justificada pelos norte-americanos como resposta à suposta perseguição política contra Jair Bolsonaro (PL) no Brasil, mas causou forte reação no empresariado nacional — especialmente no agronegócio, tradicional base de apoio bolsonarista.
As tensões vieram à tona com o embate público entre Eduardo Bolsonaro e o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos). Enquanto Eduardo exige anistia como condição para a resolução diplomática com os EUA, Tarcísio buscou a embaixada americana na tentativa de negociar tecnicamente uma solução para as tarifas — atitude vista como desleal pelo deputado licenciado.
“Está nas mãos dos senhores”, disse Eduardo, apelando aos presidentes da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB), e do Senado, Davi Alcolumbre (União-AP), para apoiarem a anistia e se juntarem à mesa de negociação com Trump.
Nos bastidores, parlamentares criticaram a exposição pública da divergência. Aliados de Tarcísio defenderam sua atuação como legítima diante da pressão empresarial, enquanto uma ala mais radicalizada do bolsonarismo manteve apoio a Eduardo e à proposta de anistia irrestrita.
O projeto de anistia em tramitação na Câmara busca perdoar não apenas os condenados pelos atos de 8 de Janeiro, mas também quem participou de ações preparatórias, o que pode incluir o próprio Jair Bolsonaro.
Eduardo foi além: quer que a anistia contemple figuras como o influenciador Allan dos Santos e ele próprio, atualmente afastado do Brasil. Em entrevista ao programa “Paulo Figueiredo Show”, o deputado afirmou que autoridades americanas chegaram a oferecer asilo político, mas a proposta foi recusada.
A defesa da anistia, que já enfrentava resistência, perdeu ainda mais força após o tarifaço. Segundo interlocutores no Congresso, a pressão do setor produtivo, especialmente do agronegócio, tem sido intensa. Líderes do centrão que antes cogitavam apoiar a medida hoje consideram a proposta inviável.
“Se antes a proposta já era difícil, agora é praticamente inviável”, avalia um parlamentar da base aliada em condição de anonimato.
Enquanto Eduardo Bolsonaro faz apelos públicos, os presidentes das Casas Legislativas se aproximaram do governo Lula. Motta e Alcolumbre participaram de reunião com o vice-presidente Geraldo Alckmin (PSB) e a ministra Gleisi Hoffmann (PT), colocando o Congresso à disposição do Executivo para articular a reação diplomática ao tarifaço.
No Senado, foi aprovada nesta quarta-feira (16) a criação de uma missão externa aos Estados Unidos, proposta pelo senador Nelsinho Trad (PSD-MS). A comitiva incluirá parlamentares como Tereza Cristina (PP-MS) e Rogério Carvalho (PT-SE), e terá como objetivo mostrar às autoridades americanas que Eduardo não representa o conjunto do Congresso Nacional.
O ex-presidente Jair Bolsonaro deu entrevistas contraditórias nesta semana. Em um momento, disse que não se envolveria na questão da sobretaxa. Em outro, pediu passaporte diplomático para participar das negociações. Ele chegou a negar a relação entre o tarifaço e a anistia, embora tenha publicado em rede social:
“Em havendo harmonia e independência entre os Poderes nasce o perdão entre irmãos e, com a anistia, também a paz para a economia.”
A tensão entre Eduardo Bolsonaro e Tarcísio de Freitas revela um embate por protagonismo na sucessão do bolsonarismo para 2026. Ambos são cotados como herdeiros políticos, mas representam projetos distintos — Eduardo, ligado à linha ideológica e radical; Tarcísio, mais técnico e alinhado ao mercado.
A insistência em uma anistia ampla pode, segundo analistas, isolar o clã Bolsonaro num momento de vulnerabilidade política, com Jair inelegível e a direita em busca de novos rostos para 2026.
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