Política Internacional
The Washington Post: julgamento de Bolsonaro coloca Brasil diante de Trump e de seu próprio passado autoritário
Jornal americano destaca caráter histórico do processo no STF e ruptura com a tradição de impunidade em tentativas de golpe
01/09/2025
12:00
DA REDAÇÃO
©DIVULGAÇÃO
O The Washington Post (WP), um dos principais jornais dos Estados Unidos, destacou nesta segunda-feira (1º/9) que o julgamento do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e de outros sete réus do “núcleo crucial” da trama golpista de 8 de janeiro de 2023 representa uma inflexão na história política do Brasil.
Segundo a publicação, é a primeira vez que uma tentativa de rompimento da ordem institucional será julgada no País, envolvendo não apenas Bolsonaro, mas também militares de alta patente e aliados próximos.
O WP ressaltou que o processo rompe com uma tradição brasileira de impunidade ou anistia em casos de golpes de Estado.
“Durante décadas, estudei mais de uma dúzia de golpes e tentativas de golpe, e todos eles resultaram em impunidade ou anistia. Desta vez será diferente”, afirmou ao jornal o historiador Carlos Fico, especialista em história militar.
A historiadora Lilia Schwarcz reforçou o caráter simbólico do julgamento, afirmando que o processo rompe um “pacto de silêncio” sobre a atuação das Forças Armadas. Ela lembrou que, mesmo após a redemocratização, os crimes cometidos durante a ditadura militar nunca foram julgados, devido à Lei de Anistia de 1979, aprovada pelo próprio regime.
O jornal também apontou que o julgamento ocorre em meio a uma crescente ruptura diplomática entre Brasil e Estados Unidos, intensificada pela postura do presidente Donald Trump.
Desde maio, o governo americano adotou medidas de pressão contra o Brasil, incluindo a ameaça de sanções ao ministro Alexandre de Moraes, relator do processo no STF. Em julho, Trump classificou as ações contra Bolsonaro como “caça às bruxas”, anunciou tarifas adicionais de 50% sobre produtos brasileiros e revogou vistos de autoridades brasileiras. Moraes chegou a ser sancionado com base na Lei Magnitsky, que prevê congelamento de bens e restrições financeiras.
O WP destacou que, apesar da ofensiva internacional, a Justiça brasileira manteve o curso da ação penal.
“Em vez de recuar, o Brasil aumentou a pressão sobre o ex-presidente e seus aliados”, escreveu o jornal, lembrando que a Polícia Federal indiciou Bolsonaro e seu filho Eduardo por reuniões com funcionários da Casa Branca, nas quais incentivaram medidas punitivas contra o Brasil.
As tarifas impostas pelos EUA foram consideradas por Moraes como tentativa de coação ao processo. Após descumprir reiteradamente restrições impostas, Bolsonaro teve a prisão domiciliar decretada em 4 de agosto.
Em entrevista ao próprio WP, publicada em 18 de agosto, Moraes reafirmou a determinação do Supremo:
“Não há a menor possibilidade de recuar nem um milímetro. Faremos o que é certo: receberemos a acusação, analisaremos as provas e quem deve ser condenado será condenado, e quem deve ser absolvido será absolvido”, declarou o ministro.
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