Política Internacional / Meio Ambiente
COP30 em Belém marca o fim do ciclo de protagonismo global do Brasil sob Lula
Entre G20, Brics, Mercosul e agora a cúpula climática, país encerra dois anos de liderança em organismos internacionais e busca consolidar legado ambiental
09/11/2025
09:00
DA REDAÇÃO
©DIVULGAÇÃO
A realização da COP30, em Belém (PA), a partir desta segunda-feira (10 de novembro), encerra um período inédito de protagonismo do Brasil em fóruns internacionais. Desde dezembro de 2023, o país presidiu três grandes blocos globais — G20, Brics e Mercosul — e agora sedia a conferência climática da ONU, coroando o ciclo diplomático iniciado no terceiro mandato do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).
O intervalo, que termina em dezembro deste ano, consolidou o Brasil como um interlocutor estratégico em temas de governança global, sustentabilidade e combate à desigualdade, embora algumas das propostas defendidas por Lula tenham avançado mais no discurso do que na prática.
G20: 1º de dezembro de 2023 a 30 de novembro de 2024
Brics: 1º de janeiro a 31 de dezembro de 2025
Mercosul: 3 de julho a 31 de dezembro de 2025
COP30: 10 a 21 de novembro de 2025, em Belém (PA)
Foi a primeira presidência brasileira na história do G20, marcada por três eixos centrais definidos por Lula:
Combate à fome, pobreza e desigualdade;
Desenvolvimento sustentável;
Reforma da governança global.
A cúpula de 2024 gerou avanços na agenda climática, com consenso para manter o aumento da temperatura global abaixo de 2°C e estímulo ao Fundo Florestas Tropicais para Sempre (TFFF). No entanto, a reforma da governança global ficou estagnada.
Lula usou o espaço para promover o Brasil como voz do Sul Global, conciliando posições e evitando rupturas — inclusive quando a Argentina ameaçou não assinar a declaração final, contornada pela diplomacia brasileira.
Na presidência do Brics, o Brasil buscou consolidar a cooperação com novos membros (Arábia Saudita, Egito, Emirados Árabes, Etiópia e Irã) e reforçar a cooperação em saúde global, IA, clima e segurança internacional.
A cúpula realizada no Rio de Janeiro, em julho, foi marcada pela tensão comercial com os Estados Unidos, após o tarifaço de Donald Trump, e pela reafirmação do compromisso do bloco com um “sistema de comércio justo, inclusivo e baseado em regras”, com a OMC em seu núcleo.
A conferência climática da ONU, sediada em Belém, busca consolidar compromissos financeiros para transição energética e adaptação climática em países em desenvolvimento.
Apesar da importância simbólica da COP30, o evento sofre esvaziamento diplomático:
A China enviou o vice-premiê Ding Xuexiang, em vez de Xi Jinping;
O primeiro-ministro Narendra Modi (Índia) também não comparecerá;
E os Estados Unidos, fora do Acordo de Paris por decisão de Trump, não enviaram delegação.
Paradoxalmente, às vésperas da COP, o governo brasileiro autorizou a Petrobras a perfurar na margem equatorial, o que gerou críticas internacionais e acusações de incoerência ambiental.
A presidência brasileira no Mercosul pode encerrar o ciclo com um marco histórico: a assinatura do acordo de livre comércio com a União Europeia, em negociação desde 1999.
Segundo o chanceler Mauro Vieira, a presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, sinalizou otimismo para que o acordo seja assinado em 20 de dezembro, no Rio de Janeiro, durante a Cúpula do Mercosul.
O conjunto de presidências internacionais reforçou a estratégia de Lula de reposicionar o Brasil como ator central no debate global, sobretudo nas agendas social e ambiental. No entanto, a ausência de grandes potências na COP30 e a lentidão em reformas estruturais mostram os limites do protagonismo brasileiro em meio às novas dinâmicas geopolíticas.
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