Veja os destaques do Caminhos do Campo deste domingo (17).
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Soja deve bater recorde de produção mesmo sem chuvas |
A estiagem, considerada a pior já registrada no estado, continua causando prejuízos para o produtor rural paranaense. Segundo o Sistema Meteorológico do Paraná (Simepar), a chuva só deve voltar com regularidade ao estado em aproximadamente quatro meses.
Na região dos Campos Gerais, agricultores de Palmeira e de São João do Triunfo registram perdas nas lavouras de feijão e de soja. O agricultor Orlando Ventroba diz que o rio Guaraúna, que corta a zona rural de Palmeira costuma ter mais um metro de profundidade.
Agora, o solo já está exposto em vários trechos do rio. O agricultor se preocupa com a lavoura de feijão, plantada em fevereiro, porque, além da falta de chuva, a área também foi castigada pela geada, na semana passada.
"Dos 35 hectares plantados, sobraram apenas dez, no máximo", lamenta o agricultor.
A maior estiagem já registrada no Paraná, dura dez meses e também deixou produtores de soja em alerta. Vagner Barausse cultiva soja, milho e feijão em São João do Triunfo, distante quase uma hora de viagem de Ponta Grossa. Ele está terminando a colheita da soja plantada em novembro e já fez as contas das perdas. "Na soja, a quebra chega a 20% e no feijão, que ainda vai ser colhido, a 15%", disse.
O engenheiro agrônomo Adriano Ventroba explica que a seca é pior do que o excesso de chuva.
"A água carrega os nutrientes para as plantas, mas sem água, a planta estressa e não se desenvolve. No enchimento dos grãos, a água é importante porque, sem ela, a planta fica mais desnutrida, mais leve e causa a quebra na produtividade".
Mesmo com o clima não ajudando, o Paraná deve bater um recorde na produção de soja, com quase 20 milhões de toneladas, mas o Departamento de Economia Rural, da Secretaria Estadual da Agricultura (Deral), estima uma perda de 24% na produção do feijão.
Para Edmar Gervásio, técnico do Deral, ainda não é possível calcular as perdas das próximas safras. "O cenário ainda é bom, com preço bom. A estiagem, no entanto, pode gerar impacto no milhões, no feijão que já está no campo e no trigo, mas vamos ter muitas oscilações e ainda não dá pra prever algo ruim lá na frente."
Clima de normalidade
Você está sentindo falta de um papo, cara a cara, com os amigos, de encontrar os vizinhos? Na zona rural e nas comunidades mais afastadas das cidades, pouca gente ficou sem estes prazeres simples do dia a dia. Na comunidade Santa Maria, em Alto Paraná, cidade vizinha a Paranavaí, no noroeste do estado, vivem 200 moradores. Boa parte trabalhava na colheita da laranja na região, mas o grupo se uniu, comprou terras na região e hoje trabalha também com outras produções, como a criação de gado, de aves e de peixes.
Por lá, os agricultores também reclamam da falta d'água, mas, no dia a dia, a rotina segue praticamente a mesma de antes da pandemia. O trabalho no campo segue inalterado. Isso só foi possível porque os agricultores vivem longe da cidade e não há casos de Covid-19 registrados nas redondezas. Quando precisam de algo na cidade, os agricultores encarregam apenas uma pessoa de ir fazer o serviço.
A situação é muito parecida na Ilha do Maciel, em Pontal do Paraná, no litoral do Paraná. Lá existe uma pequena comunidade de pescadores artesanais. A pesca está suspensa temporariamente porque os mercados de peixe das cidades litorâneas estão fechados. Com isso, os moradores só vão ao continente uma vez por mês, para fazer compras nos supermercados e para pagar contas.
Na ilha, o clima é de normalidade. Por lá, as pessoas não usam máscaras o tempo todo e o papo entre vizinhos segue o ritmo das marés. As crianças também brincam soltas pelas ruelas de areia da vila. Os moradores dizem que se sentem no paraíso. Quem diria que justamente a distância que os separam das cidades seria o que, agora, os deixam mais juntinhos?
Por G1 PR