Campo Grande (MS), Quarta-feira, 12 de Novembro de 2025

Política / Justiça

Cem dias sem solidão: confinamento de Bolsonaro mistura isolamento, fé e articulações políticas nos bastidores da direita

Mesmo em prisão domiciliar desde 4 de agosto, ex-presidente mantém rotina de visitas, cultos e conversas sobre as eleições de 2026, enquanto aguarda decisão final do STF

12/11/2025

07:15

DA REDAÇÃO

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A prisão domiciliar do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) completou cem dias nesta terça-feira (12), e, apesar das restrições impostas pelo Supremo Tribunal Federal (STF), o confinamento tem sido tudo, menos solitário. Desde 4 de agosto, quando o ministro Alexandre de Moraes determinou as medidas cautelares, Bolsonaro recebeu 69 visitantes em 62 ocasiões — entre políticos, religiosos e familiares.

De acordo com levantamento do Metrópoles, baseado em despachos judiciais que autorizam as visitas, o ex-presidente passou mais tempo acompanhado do que sozinho. Na mansão do Solar de Brasília, onde vive com Michelle Bolsonaro e a filha Laura, o fluxo de aliados é constante. O local tornou-se centro de peregrinação política e religiosa, com vigilância policial permanente.

Entre a fé e a política

Embora a casa abrigue orações semanais conduzidas por Michelle, com até 16 participantes fixos, a maioria das visitas é de caráter político. O presidente do PL, Valdemar Costa Neto, o governador Tarcísio de Freitas (Republicanos-SP) e o senador Rogério Marinho (PL-RN) estão entre os nomes que mais frequentaram o local.

O grupo de oração liderado pela ex-primeira-dama, que reúne pastores e parlamentares evangélicos como Thiago Manzoni (PL-DF), tornou-se o evento mais recorrente da agenda doméstica de Bolsonaro — já foram sete encontros religiosos em cem dias.

Nos bastidores, porém, as conversas vão além da fé: discutem-se estratégias eleitorais, o projeto de anistia dos réus do 8 de Janeiro e os possíveis rumos da direita nas eleições de 2026.

Da tornozeleira ao cerco político

Bolsonaro foi colocado em prisão domiciliar após descumprir restrições impostas por Moraes, que o proibiam de se comunicar publicamente e de manter contato com diplomatas e políticos estrangeiros. O estopim foi uma chamada de vídeo exibida em manifestação pró-anistia, feita por Nikolas Ferreira (PL-MG), e um vídeo publicado pelos filhos Flávio e Carlos, o que levou o STF a decretar o recolhimento noturno e o uso de tornozeleira eletrônica.

Desde então, o ex-presidente não pode conceder entrevistas nem usar redes sociais — direta ou indiretamente. Ainda assim, mensagens e recados políticos circulam por meio de intermediários, mantendo sua influência no PL e no Centrão.

Rotina de fé e momentos familiares

Os dias do ex-presidente mesclam orações, encontros políticos e reuniões familiares. Entre os eventos privados, destacam-se o Dia dos Pais, em 10 de agosto, e o aniversário de 15 anos da filha Laura, em 18 de outubro — ambos com autorização judicial.

Os cultos conduzidos por Michelle Bolsonaro se tornaram uma tradição semanal. Os pastores Márcio Trapiá e Dirce Dias, ligados a movimentos cristãos de Brasília, integram o grupo que presta apoio espiritual à família.

Mesmo os eventos religiosos, contudo, mantêm vínculos políticos: o deputado Thiago Manzoni, por exemplo, emprega o coronel Flávio Peregrino, investigado pela Operação Ultima Ratio da Polícia Federal.

Articulações e planos para 2026

Impedido de se comunicar diretamente, Bolsonaro segue articulando os bastidores da oposição. Os encontros com Valdemar Costa Neto, Rogério Marinho, Ciro Nogueira (PP) e Tarcísio de Freitas focam na reorganização da direita e na formação de palanques.

Segundo aliados, o ex-presidente vê Tarcísio de Freitas e Ratinho Júnior (PSD-PR) como os nomes mais competitivos à sucessão presidencial. Ainda assim, insiste em aguardar o desfecho do Projeto de Lei da Anistia antes de anunciar um eventual sucessor.

Internamente, o PL enfrenta divisões. A pré-candidatura de Carlos Bolsonaro ao Senado por Santa Catarina gerou atritos com o senador Esperidião Amin (PP-SC) e evidenciou o desgaste na comunicação entre os filhos de Bolsonaro e o partido.

O senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ), principal porta-voz do pai, tenta conter disputas internas e manter a unidade entre PL, PP e Republicanos, enquanto Eduardo Bolsonaro (PL-SP) segue nos Estados Unidos, articulando com aliados de Donald Trump e alimentando tensões com o STF.

A rotina vigiada e a vizinhança em conflito

Desde o início do confinamento, o Solar de Brasília transformou-se em cenário de protestos e vigílias. Apoiadores se reúnem quase diariamente com bandeiras do Brasil e de Israel, enquanto grupos de oposição já chegaram a inflar um boneco de Bolsonaro vestido de presidiário em frente ao condomínio.

O clima de tensão divide os moradores. “Estamos sem sossego em nossas próprias casas”, reclamou uma moradora, em entrevista ao Metrópoles.

O ex-presidente, por sua vez, enfrenta problemas recorrentes de saúde, incluindo episódios de soluços e vômitos relacionados à facada de 2018. Desde agosto, já foi três vezes ao hospital e precisou de atendimento emergencial em casa em 29 de setembro.

À espera da decisão final

Na semana passada, o STF rejeitou por unanimidade os primeiros recursos da defesa na Ação Penal 2.668, que condenou Bolsonaro a 27 anos e 3 meses de prisão por tentativa de golpe de Estado.

Com o julgamento em fase final, o Supremo deve decidir se o ex-presidente deixará a prisão domiciliar para cumprir pena em regime fechado, possivelmente no Complexo da Papuda, em Brasília.

Enquanto aguarda o desfecho, Bolsonaro segue recluso, mas ativo politicamente, transformando a própria casa em centro de decisões e articulações da oposição.


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