Política / Justiça
Prisão e julgamento de Bolsonaro tensionam direita e colocam STF no centro do debate eleitoral de 2026
Disputa pelo espólio político do ex-presidente mobiliza governadores e amplia pressão por anistia; especialistas veem risco de radicalização e ataques ao Supremo
22/09/2025
07:30
DA REDAÇÃO
©DIVULGAÇÃO
A condenação do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) a 27 anos e três meses de prisão por tentativa de golpe e crimes contra o Estado democrático, somada à sua prisão domiciliar, provocou um abalo político no campo da direita. O episódio reposiciona o STF (Supremo Tribunal Federal) como alvo preferencial e deve arrastá-lo para o debate eleitoral de 2026.
Segundo cientistas políticos, a mobilização pela anistia de Bolsonaro e os ataques ao Supremo refletem a disputa interna pela herança eleitoral e simbólica do ex-presidente. Mas eles alertam: adotar uma pauta anti-STF de forma incisiva pode afastar o eleitorado de centro e conservadores moderados, fundamentais em uma eleição presidencial.
Entre ministros do Supremo, há a percepção de que 2026 será um ano turbulento, com tendência de intensificação dos ataques. O tribunal mantém inquéritos em andamento, como o das milícias digitais, justamente prevendo um cenário de instabilidade política.
Mesmo com a expectativa de uma maior bancada bolsonarista no Senado (10 a 12 radicais), a avaliação predominante no STF é que um impeachment de ministros não deve prosperar, devido ao peso do centrão no Congresso.
A direita vive o dilema de manter viva a bandeira da anistia e da crítica ao Supremo sem fechar portas com o eleitor moderado. O governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), visto como nome viável para herdar o espólio bolsonarista, endureceu o discurso contra Alexandre de Moraes no 7 de Setembro, chamando o ministro de “tirano”. O gesto foi celebrado por setores radicais, mas avaliado como arriscado em termos de opinião pública.
Para partidos de direita, apoiar a anistia de Bolsonaro passou a ser condição para integrar uma frente política em 2026, sobretudo ao lado de governadores aliados. O tema foi discutido em jantar da federação PP-União Brasil, reforçando a centralidade do assunto na articulação eleitoral.
A cientista política Carolina de Paula, da Uerj, avalia que a pauta anti-STF deve ser mais explorada em campanhas ao Legislativo do que em disputas presidenciais ou estaduais:
“Posições mais radicalizadas contra ministros não agradam o eleitor de centro e de direita menos radical. A tendência é que esse discurso fique restrito a candidatos a deputado e, em menor medida, ao Senado.”
O professor da UnB, André Borges, reforça que a divisão da direita gira em torno de quem herdará o capital político de Bolsonaro:
“O que vimos nas últimas semanas é uma disputa interna pela liderança do campo da direita. O apoio de Tarcísio à anistia é um aceno à base mais radical, mas com risco de desgastar sua imagem junto ao eleitor conservador não bolsonarista.”
A tendência, segundo analistas, é que a pauta anti-STF se torne bandeira de candidatos bolsonaristas à Câmara e ao Senado, mas dificilmente será o eixo de uma campanha presidencial. Para conquistar maioria no Congresso, Bolsonaro e aliados projetam priorizar essas eleições legislativas, ainda que ele próprio esteja juridicamente fragilizado.
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