Agronegócio e Comércio Exterior
Tarifas dos EUA impulsionam exportação de soja do Brasil para a China, mas gargalos logísticos limitam ganhos
Especialistas apontam que, apesar da safra recorde, falta de infraestrutura pode comprometer aproveitamento da alta na demanda chinesa
10/04/2025
08:00
DA REDAÇÃO
©DIVULGAÇÃO
O Brasil deve ampliar significativamente suas exportações de soja para a China em 2025, impulsionado pelas tarifas impostas pelos Estados Unidos ao país asiático. No entanto, especialistas alertam que os gargalos logísticos brasileiros — da armazenagem ao transporte — podem limitar o aproveitamento desse aumento na demanda.
Desde fevereiro deste ano, o governo norte-americano impôs uma tarifa de 20% sobre a soja vendida aos chineses, o que já provoca reflexos nos dados comerciais. Em março, as exportações brasileiras de soja para a China cresceram 16,5% em relação ao mesmo período de 2024, segundo o Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (Mdic). No mesmo intervalo, as compras chinesas do grão dos EUA caíram.
Segundo Thiago Péra, coordenador do grupo Esalq-Log (USP), a principal barreira para um salto ainda maior nas exportações brasileiras está na estrutura logística:
Capacidade de armazenagem no Brasil: entre 60% e 70% da produção, índice que vem caindo
Capacidade de armazenagem nos EUA: cerca de 150% da produção
Transporte rodoviário predomina: 54,2% dos grãos brasileiros são transportados por caminhões, que muitas vezes viram "armazéns sobre rodas"
“Temos sinais claros de aumento da demanda por soja do Brasil. Mas, ao mesmo tempo, temos um cenário de limitações de infraestrutura”, afirma Péra.
A safra recorde de soja neste ano deve aliviar parte da pressão, segundo Sérgio Mendes, diretor-geral da Anec (Associação Nacional dos Exportadores de Cereais). Ele explica que o menor consumo de milho no mercado interno reduz a concorrência logística e abre espaço para o escoamento da soja.
“Precisamos aproveitar essa oportunidade. Com o recuo na exportação de milho, haverá mais janela para a soja. Em anos como 2023, a exportação se estendeu até o início do ano seguinte”, destacou Mendes.
A mudança no fluxo de comércio entre China e Brasil não é recente. Segundo Ana Luiza Lodi, especialista de inteligência de mercado da StoneX, o movimento teve início em 2018, ainda no governo Trump.
“O que tende a acontecer agora é a China reforçar as compras de soja do Brasil, tentando evitar o grão americano, que ficou mais caro com as tarifas”, explica.
As exportações brasileiras, segundo ela, devem atingir 107 milhões de toneladas em 2025, superando o recorde de 2023 — sem contar o impacto total da guerra comercial.
Embora o Brasil viva um momento favorável no comércio internacional da soja, o potencial de crescimento depende de dois fatores:
Quanto mais a China aumentará suas importações do Brasil diante da guerra comercial
Quanto da produção brasileira será de fato destinada à exportação, já que parte considerável é absorvida pelo mercado interno
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