POLÍTICA
Bolsonaro “perdoou” Ramagem: áudio vazado segue provocando transtornos ao ex-presidente
Especialista em direito eleitoral explica como gravação ainda pode atrapalhar planos do PL para eleições municipais e presidenciais
01/08/2024
07:30
GRAF COMUNICA
©Fernando Frazão/Agência Brasil
Um áudio vazado do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) pode ser usado contra ele em processos futuros? A dúvida tem tirado o sono de apoiadores e aliados importantes. Ainda não ficou claro se Alexandre Ramagem, então diretor da Agência Brasileira de Inteligência (ABIN), tinha autorização para gravar a reunião em 25 de agosto de 2020.
O novo escândalo veio à tona no dia 15, após o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes, liberar o sigilo do áudio. A gravação faz parte do processo que investiga a chamada “Abin Paralela”, uma suposta organização criminosa que teria utilizado a estrutura do Estado para identificar desafetos do governo e inimigos da família do ex-presidente.
Especialistas em direito se debruçam sobre o caso e tentam entender de que forma o novo escândalo pode afetar a percepção da imagem do ex-presidente e do partido, pelo público. Samuel dos Anjos, advogado Criminal, explica como as gravações podem influenciar os processos judiciais contra Bolsonaro: “O ex-presidente já é investigado por conta de outros casos de advocacia administrativa. Caso haja um processamento e condenação por conta de uma situação como essa, e sobrevenha nova condenação, um dos pontos que consideramos ao determinar a quantidade de pena a ser fixada é a reincidência, conforme descrito no artigo 59 do Código Penal, que define as circunstâncias elementares do fato.”, aponta Samuel.
O encontro gravado por Ramagem, contou com a presença de Bolsonaro, o então chefe do Gabinete de Segurança Institucional (GSI), General Augusto Heleno, e duas advogadas do senador Flávio Bolsonaro, e teria como objetivo tratar da investigação sobre as supostas rachadinhas no gabinete do parlamentar. A gravação de 1 hora e 8 minutos, encontrada em um celular durante uma operação de busca e apreensão da Polícia Federal, sugere uma tentativa de interferir no andamento das investigações contra Flávio Bolsonaro.
A nova polêmica se soma a outras tantas envolvendo o nome da família Bolsonaro. Em 2023, de acordo com um levantamento feito pelo próprio PL, o ex-presidente acumulava quase 600 processos judiciais, incluindo ações eleitorais que cobram multa e inelegibilidade, além de processos por declarações feitas durante lives e multas por ele não ter usado máscara durante a pandemia ou mesmo capacete em motociatas. “Essa reunião sugere que o ex-presidente agiu violando a legislação praticando crimes. No mínimo, nós averiguamos indicativos da prática do delito de Advocacia Administrativa, porque se utilizar do poder ou das atribuições que possui para favorecer amigos ou a si próprio, se configura um crime, violando também o dever de respeito à impessoalidade no trato da coisa pública, podendo também indicar atos de improbidade administrativa”, afirma.
Wallyson dos Anjos, advogado especialista em Direito Eleitoral, destaca que o processo requer uma investigação completa: “É importante lembrar que esse é um dos elementos que foram liberados pelo ministro Alexandre de Moraes. Para ter algum impacto em outra investigação, é necessário estabelecer um nexo causal, o que é difícil aferir com clareza, especialmente considerando que o processo está sob segredo de Justiça”, reforça. Os especialistas concordam em um ponto, caso se comprove que Ramagem gravou as autoridades sem autorização, os áudios podem ser considerados ilegais, o que não está descartado até o momento.
Com agenda repleta de viagens e reuniões, Bolsonaro parece estar sendo blindado pelos filhos e pelo partido, que buscam uma forma de resolver a situação internamente e seguir com a campanha para as eleições municipais sem maiores prejuízos. Ramagem segue no partido, e em campanha para a prefeitura do Rio de Janeiro. A percepção de manipulação e interferência judicial com o vazamento do áudio pode minar a confiança dos apoiadores e eleitores, enfraquecendo a base política e reduzindo o capital eleitoral do ex-presidente e do próprio Ramagem, que apesar da aparente tranquilidade, segue no olho do furacão.
Os comentários abaixo são opiniões de leitores e não representam a opinião deste veículo.
Leia Também
Leia Mais
Bolsonaro admite condenação como inevitável, mas aliados apostam em redução de pena no STF
Leia Mais
Organizações denunciam retrocessos no “Pacote da Blindagem”
Leia Mais
Alckmin inicia missão no México para ampliar comércio e investimentos
Leia Mais
Menopausa aumenta risco cardíaco: 80% das mulheres vivem em alerta
Municípios